A região onde hoje se encontra Jaguarão, primeiramente foi território indígena. Uma nação viveu, por milhares de anos nesta região, onde os estudiosos classificaram-na como Tradição Umbu. Com o tempo, tornaram-se ceramistas nômades da zona pampiana, e seus vestígios (potes de barro cozido) são identificados pelos arqueólogos como Tradição Vieira. Com a chegada dos colonizadores, passariam a ser chamados de Minuanos pelos espanhóis e portugueses ou Guenoas pelos jesuítas.
Com a chegada dos europeus, estas terras passam a ser disputadas pelas Coroas espanholas e portuguesas, o que acabou forçando a assinatura de vários tratados. O mais importante foi o de Madri (1750) onde o RS fica praticamente com o mapa atual, ligado a Coroa Portuguesa. Porém na prática não dá certo e só em 1801 com o Tratado de Badajós, fica estabelecido à fronteira no Rio Jaguarão e Arroio Chuí entre Portugal e Espanha. Por conta disso, Portugal envia uma Guarda Militar para as margens do Rio Jaguarão, dando origem ao povoado que mais tarde se tornaria uma das principais cidades gaúchas, no século XIX. De Guarda da Lagoa e do Serrito (1802) se transformara logo em seguida na Freguesia do Divino Espírito Santo de Jaguarão (1812).
Em 1832 é elevada a Vila, que na época tinha status de município, pela autonomia que possuía. Neste período havia uma radicalização na província, que geraria em seguida a Guerra dos Farrapos. Nossa Câmara Municipal foi a 1ª a declarar apoio à República do Piratini. A cidade foi se desenvolvendo a partir do comércio e contrabando com o Uruguai, e a partir da segunda metade do séc. XIX começa a aparecer o casario que até hoje ostenta sua imponência aos turistas que aqui chegam.
Em 1845 o então Conde de Caxias determina a construção de várias fortificações no RS para proteção do Brasil, porém só foi erguido efetivamente o Forte D. Pedro II em Caçapava do Sul. Em Jaguarão, o projeto seria no Cerro da Pólvora, porém ainda não temos evidência que tenha sido iniciado. O trabalho arqueológico realizado em janeiro de 2011 nas ruínas da Enfermaria, dentro do Processo da criação do Centro de Interpretação do Pampa, não identificou nenhum registro.
Enfermaria Militar.
Em 23 de novembro de 1855 Jaguarão é elevada a Cidade. É considerado o 12º município gaúcho. Em 1864, inicia-se as obras do atual Mercado Público, concluído em 1867.Em 27 de Janeiro de 1865, aconteceu o célebre conflito com os orientais, dentro do contexto das guerras platinas. Para desviar a atenção do Brasil sobre Montevidéu, o Cel. Munhós ataca Jaguarão, entrando pelo Paço da Armada. A Guarnição local, em número inferior, sob o comando do Cel. Manuel Pereira Vargas, juntamente com os policiais e a população local, conseguiu resistir, até a recuada dos invasores. Isto rendeu a Jaguarão o título de Cidade Heróica.
Jaguarão se manteve entre as principais cidades gaúchas, tanto na política como na economia, até o início do século XX. Seu desenvolvimento recuou quando construida a ferrovia Rio Grande-Bagé e posteriormente Montevidéo- Rio Branco, uma vez que sua economia baseava-se fundamentalmente no comércio com o Uruguai. A posse de Carlos Barbosa no Governo do Estado em 1909 e a construção da Ponte Internacional Mauá, concluída em 1930, fez com que a cidade ainda mantivesse status político e uma movimentação de capital e trabalho.
Construção da Ponte Internacional Mauá.
Porém, nas décadas posteriores vai acontecer um recuo econômico que, mesmo mantendo status por um longo período, a cidade pouco a pouco vai perdendo prestígio e elementos que constituíam sua vida: aeroporto, fábrica de café, atividades culturais, jornais, políticos influentes no Estado, etc. Isto tudo passou a pesar no inconsciente das pessoas, chegando a formar-se a idéia negativa “Jaguarão, terra do já teve”. Este talvez seja o grande desafio para os atuais gestores, não apenas políticos, mas das mais variadas entidades da cidade. Resgatar a auto-estima da população, demonstrar que Jaguarão é uma “Jóia rara da arquitetura brasileira” e que estava em processo de hibernação, mais ou menos como foi-nos colocado por um fotógrafo da National Geográfic que aqui esteve em setembro de 2009.
A publicidade estadual e nacional em torno do Tombamento do Centro Histórico da Cidade, e do tombamento Binacional da Ponte Internacional Mauá, é um elemento que vem demonstrar este novo caminho, ou nova maneira de caminhar. Agora é cuidar e aproveitar aquilo que, na maioria das cidades, sobretudo as de grande porte, não existe mais, e que aqui temos em abundância: um patrimônio material e imaterial invejável. Se conseguirmos superar as limitações que possuímos, e partimos para a ofensiva, seguramente esta cidade, juntamente com seu entorno e a cidade irmã Rio Branco (Uruguai), será parada obrigatória para qualquer viajante ou turista. “Somos uma pérola que havia ficado perdida. Agora temos que nos apossarmos dela, e mostra-la para o resto do mundo.”
Por: Carlos José de Azevedo Machado (Prof. Maninho)